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16 de agosto de 2015Era simplesmente…um advogado

Escolhi o curso de Direito – como tantos outros fizeram e ainda fazem – pelas inúmeras possiblidades de carreiras que o bacharelado oferece. No entanto, foi assistindo à atuação de grandes tribunos, como Paulo Manoel Beckenkamp, João Paranhos Luz, José Paranhos Luz, Luiz Pedro Swarovsky, Gerson Jorge da Silveira, Bruno Martinez Mahl, Fernando Bartholomay, e ouvindo sobre as atuações de Osvaldo de Lia Pires e Amadeu de Almeida Weinmann, que decidi ser Advogado.
A essência da advocacia veio a mim – por sorte – já no primeiro trabalho: a nomeação para atuar de forma dativa na defesa de um réu que seria submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri. Dezoito anos de reclusão foi a sentença proferida pelo Juiz de Direito, atendendo ao que foi decidido pelo Conselho de Sentença.
No dia seguinte ao doloroso julgamento, enquanto instruía o cliente para que pedisse ao Juiz a nomeação de outro Advogado, quiçá com mais experiência, ouvi as seguintes palavras, uma lição que jamais deixará minha memória e coração: “Doutor, eu tenho trinta e seis anos de idade e até hoje ninguém falou bem de mim. Ontem, quando o Promotor começou a falar, me deu vontade de morrer. Depois, quando o senhor começou a falar, me deu vontade de viver novamente. O senhor foi um anjo que Deus colocou no meu caminho e eu quero continuar com o senhor até o final”.
Eis a essência da advocacia! O Advogado não é procurado apenas pela questão técnica, pois, muito além disso, o cliente procura um amigo, uma pessoa capaz de aconselhá-lo, que fale por ele, já que não possui voz processual.
Ao advogado, independentemente da especialidade, é dada a missão de lutar pelo Estado Democrático de Direito e guardar, acima de tudo, os interesses de seu constituinte, de acordo com os ditames do Direito e da Justiça.
Como referiu Carnelutti[1]: “o nome mesmo de Advogado soa como um grito de ajuda. Advocatus, vocatus ad, chamado a socorrer. (…) Advogado é aquele, ao qual se pede, em primeiro plano, a forma essencial de ajuda, que é propriamente a amizade”.
Essa é a busca dos clientes de todas as áreas do direito. Do civilista ao previdenciarista, do tributarista ao empresarial, do criminalista ao trabalhista, enfim, acima da especialidade há outra especialidade: ser um bom amigo.
Assim, alcançando a essência da advocacia, o Advogado passa a entender a sua função transformadora. Nas palavras de Calamandrei[2]: “Não era um herói, nem um santo: era simplesmente… um Advogado”.
Parabenizo as Advogadas e Advogados da subseção de Santa Cruz do Sul por esse dia tão especial.
Ezequiel Vetoretti
[1] CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. Tradução de Ricardo Rodrigues Gama – 1.ed. Campinas: Russel Editores, 2007. p. 29.
[2] CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, Vistos por Nós, os Advogados. Tradução de Ary dos Santos.1. ed., p. 188.